Um pequeno-almoço com Leonardo Jardim serviu de mote para fazer o balanço de uma época em que o SC Braga voltou a fazer história, ao conquistar um terceiro lugar que lhe dá acesso ao play-off da Liga dos Campeões. A Bola online apresenta-lhe os principais tópicos da conversa dom o técnico.
- A vitória do Chelsea permitiu ao Braga aceder diretamente ao play-off da Champions. Não é difícil imaginar que estava a torcer pela vitória dos ingleses...
- Estava a torcer, com certeza. Foi muito bom para o Braga a vários níveis, Desportivamente conseguimos ir ao play-off, o que foi bom em termos financeiros, porque usufruímos de uma quantia grande com esta entrada; ao nível de férias também foi bom. Em agosto teríamos de fazer sete jogos! O mercado ainda aberto nessa altura, podiam sair jogadores, e este quadro permite-nos ter um planeamento mais alargado do campeonato e play-off.
- Ainda não comentou as chamadas de Custódio e Miguel Lopes ao Europeu. São jogadores que valorizam o que o Braga fez esta época?
- A chamada dos nossos jogadores valoriza acima de tudo a estrutura do Braga. Com um pormenor importante: são dois jogadores que por hábito, não vão à Seleção, por isso foi o rendimento deles em Braga que os levou até lá. Estou satisfeito.
- E também sai satisfeito com o balanço da época?
- Houve coisas positivas e negativas. Em duas provas conseguimos os objetivos que perseguíamos, na Liga Europa passámos a fase de grupos, que era objetivo mínimo; no Campeonato queríamos ficar nos quatro primeiros lugares e ficámos em terceiro. Ambicionava mais. Na Taça é que não conseguimos, porque queríamos ir à final e isso não foi conseguido. Outro aspeto importante: Elderson, Custódio, Viana, Barbosa e Lima fizeram das melhores épocas das suas carreiras, e valorizaram-se imenso. Isso significa que teremos mais jogadores para vender. A realidade da época foi esta
- E o treinador também saiu valorizado ao ponto de poder sair?
- O treinador, em termos contratuais, está ligado ao Braga por dois anos, mas sabemos que é difícil fazer previsões para o futuro. Pretendo cumprir o vínculo que tenho, mas o futuro dos profissionais de futebol é sempre incerto.
«Aceito bem o que Domingos disse no início da época» - Leonardo Jardim
No início da temporada, quando foi apresentado no Sporting, Domingos Paciência excluiu o Braga da luta pelo título, afirmando que a discussão seria entre os três grandes. A BOLA perguntou a Leonardo Jardim se essas palavras serviram de motivação para o grupo ou se foram utilizadas como pretexto para obter resposta assertiva do Braga em campo. Jardim desmistificou o tema:
- Aceito o que o Domingos disse. O Braga fez uma boa campanha na Liga Europa e mas depois perdeu 13/14 jogadores e também o treinador. Todos acreditavam que íamos fazer uma má campanha e até amigos meus me disseram que ia ser um risco grande, as expectativas eram poucas. Superamos muitos medos, tivemos muitas lesões e problemas, mas mesmo assim fizemos uma época aceitável. Era normal pensar no início que o Braga não iria fazer o que fez, fomos uma boa surpresa.
E lembrou objetivos intermédios que também foram atingidos:
- Tivemos um jogador na luta pelo melhor marcador, que terminou com os mesmos golos do Cardozo, dois jogadores na Seleção, fizemos 13 jogos sempre a vencer, conquistámos o maior número de vitórias, tivemos mais golos marcados. Domingos esteve muito bem na análise, na situação dele, e tendo em conta o quadro, até podia defender a sua opinião. Quando me sentei nesta cadeira, há um ano, alguns diziam-me que tinham saído oito defesas, um guarda-redes, o Matheus, enfim, tanta gente... Temos de estar preparados para rentabilizar os ativos e estamos preparados para a saída de atletas. Fazemos o que sabemos fazer, uma boa gestão.
«Na próxima época assumo que quero mais» - Leonardo Jardim
Fazer mais. Chegar mais longe no Campeonato e nas Taças. Atingir a fase regular da Champions São estes os grandes desafio de Leonardo Jardim para a época 2012/2013
- O que é preciso para termos um Braga candidato assumido ao título?
- Comparo o Braga aos três candidatos em termos de trabalho, ambição e valor dos atletas, mas em termos de investimento existem grandes diferenças. Se igualássemos essa variável seríamos grandes candidatos ao título. Na próxima época, assumo que quero mais. Não podemos pensar de rentabilizar tanto como o Benfica ou os outros grandes. Depositar 10 euros é diferente do que depositar 5 euros, o que temos de fazer é que rentabilizar o nosso próprio investimento.
- O terceiro lugar soube a pouco, considerando que podiam ter ido mais longe?
- Não tivemos rendimento suficiente para conservar os dois primeiros lugares. Ficámos em terceiro, acho que de forma justa. Tivemos grande qualidade de jogo.
- O Montpellier, clube pequeno em França, sagrou-se campeão. É um bom exemplo para vocês?
- Talvez sim, talvez não. Em termos qualitativos a França está atrás do Campeonato português. Nos últimos dois anos, Portugal conseguiu fazer mais na Europa, colocou vários jogadores portugueses nas finais europeias. Por exemplo, em Espanha é difícil ultrapassar os dois primeiros, na Inglaterra quase a mesma coisa. Em Portugal, conseguimos intrometer-nos na luta dos três grandes e ficar à frente de um deles.
«VÃO SAIR JOGADORES»
- O Braga valorizou muitos atletas este ano. Está preparado para pedre jogadores importantes?
- Espero perder menos jogadores do que perdi na época passada, mas mesmo se perder muitos os nossos objetivos desportivos não mudam. Vamos avaliar também jogadores que estiveram a rodar. O Braga tem a noção de que para ser viável tem de vender jogadores. Para ter ambição desportiva também tem de ter qualidade. Terá de haver um equilíbrio nesses dois aspetos porque queremos ir a fase regular da Champions. Para já, é a primeira vez que entramos diretamente no play-off.
- Como está a correr o planeamento da próxima temporada?
- Está decidido que regressaremos ao trabalho em princípio de julho [2 de julho, n.d.r]. Em relação ao plantel estamos a definir quem vai sair, quem vai ser vendido e quais os jogadores que podem entrar na estrutura, para construir uma equipa forte.
- A futura equipa B permite-lhe fazer uma gestão diferente?
- Permite-nos ter algumas soluções, mas plantel principal rondará sempre os 21/22 jogadores.
- Tomou decisões em relação ao Nuno Gomes?
- Não quero individualizar quem sai ou entra. A ideia é sair um jogador se tivermos soluções à medida.
«Em Portugal treinador tem pouca importância» - Leonardo Jardim
Quem é o treinador do ano em Portugal? Leonardo Jardim pergunta quais os critérios de avaliação numa eleição deste género...
- É difícil fazer análise de um treinador. Qual são os parâmetros? Se for pela ordem classificativa, está decidido quem foi. Para mim, o treinador não tem mais do que 15 por cento de responsabilidade pelos resultados, o restante é mérito da estrutura. Não existe margem para catalogar um treinador sem ser pelo rendimento desportivo. Estou no pódio.
- Imaginava chegar tão depressa ao topo?
Há 10 anos o meu objetivo era chegar à I Liga. Tenho um percurso diferente, comecei a treinar infantis no Distrital há 19 anos. É uma satisfação pessoal ter chegado aqui, será sempre o momento mais marcante da minha vida. Quero ser competente e fazer o meu trabalho com qualidade.
- A vida de um treinador não é fácil...
- Em Portugal o treinador tem pouca importância. Há outros países em que somos mais importantes. O caso do Arsenal em Portugal era impossível, tem um orçamento brutal, objetivos traçados e por vezes não os consegue atingir. O treinador lá é um manager, gera a equipa, em Portugal temos de estar preparados para tudo, por isso é que não faço grande festa quando ganho nem me vou abaixo nas derrotas.
in abola.pt